FARRAPO DE GENTE
Sem sorriso
Sem interesse
De olhar distante e vazio
Ali às “Portas de Santo Antão”
Sentado no chão
Juntinho ao Rossio
Parecia um homem
Mas não
Acabei por saber
Chamava-se Paula
O farrapo de gente
Que acabava de ver
Passei
Fui em busca dalgum alimento
Voltei de seguida, trazendo uma sandes
De queijo, manteiga, fiambre
Sumo bem fresquinho
Agachei-me junto
Daquele farrapo
Farrapo de gente
Ergueu os olhos, para mim
Vazios sem brilho, de cor esverdeada
Era mulher, só aí é que eu vi
Era moça
Moça abandonada
Coçava os braços picados
Em gestos desenfreados
Logo lhe disse
Toma querida, tens que comer
O pãozinho é molinho
O sumo é fresquinho
Faz-te bem beber.
Não quero, dizia
Come filha
Nem que seja um pouquinho
Continuava eu
Dei-lhe o sumo, metade do pão
Que sem força pegou com a sua mão
Come meu amor, vai-te fazer bem
Olhei com tristeza, a moça perdida
Perdida na vida, sem acareio de ninguém
De seu nome Paula
Farrapo de gente
Sem colo de Mãe…
Rosa Guerreiro Dias
27-7-2014