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TROPELIAS DE DOIS ALENTEJANOS!

por Rosa Guerreiro Dias, em 18.08.10

 

Numa noite de Fados

8-8-2010

 

Fui convidada a participar numa noite de fados em Elvas, na qual se ia prestar uma homenagem a uma mulher que não sendo alentejana ali foi parar na sua juventude.

Estou falando de :

Rosamaria, Mulher, Fadista, Parteira.

Mulher que dedicou a sua vida, a ajudar outros a viver.

Foram suas mãos que serviram de ajuda, para que o ultimo obstáculo dum longo percurso de várias vidas, fosse ultrapassado com êxito.

Foram seus braços que apararam muitos meninos e meninas de Elvas e redondezas que por sorte ou destino, abriram pela primeira vez os olhos nessa velhinha Cidade que foi digna, durante muitos anos de ter uma Maternidade chamada:

Mariana Martins!

Onde por sinal eu também nasci.

Mas voltamos ao convite que tive para participar dessa homenagem, para declamar minha poesia.

Vivo em Lisboa, e tendo eu casa em Campo Maior, decidi chegar uns dias antes para poder revisitar mais uma vez a bonita Vila fronteiriça e dar umas voltinhas pela minha cidade.

No dia 7 de Agosto saí de minha casa, acompanhada de meu marido, em direcção a Elvas onde participaria no evento atrás mencionado; não estando muito habituada ao trânsito e ao estacionamento na Cidade em questão, resolvemos de comum acordo deixar nosso carro no Parque de Estacionamento Subterrâneo do Largo da Sé para maior segurança.

Vivendo eu numa cidade como Lisboa, é imperdoável da minha parte não ter reparado nos horários de encerramento do Parque! Reconheço minha culpa, falhei.

Confiei num normal horário de 24 horas.

E assim estacionamos sem que nada fizesse prever as tropelias porque iríamos passar com esta nossa distracção.

Eram cerca das 21 horas quando deixamos nosso carro no Parque e lá caminhamos numa boa, como agora na gíria se diz, em direcção à festa que nos aguardava.

O horário do espectáculo havia sido alterado, pois ao mesmo tempo e ali bem juntinhos dois espectáculos se iriam realizar.

E assim, já alta hora começava a noite de fados com o famoso caldo verde, chouriço assado, e tudo regado de boa pinga.

Ouvia-se então a primeira voz a de Rosamaria que nos deliciou com os dois primeiros fados.

Como que refrescando a noite quente, ouvia-se de vez em quando uma chuva de aplausos aos fadistas e poetas que pelo palco desfilavam.

O tempo passava sem que déssemos pela hora tardia. Depois das actuações e de todas as palavras bonitas dedicadas à homenageada, começaram os agradecimentos e as despedidas, levando cada um dos presentes a tomar seu rumo! O nosso foi em direcção ao Parque de Estacionamento, onde nos aguardava nosso carrinho que nos levaria a casa.

Mas! Há sempre um mas! E qual não foi nosso espanto demos com o Parque encerrado.

Eram cerca das duas da madrugada!

Ficamos estupefactos, e sem querer acreditar dirigimo-nos ao Sr. que fechava o Quiosque e perguntamos, o Parque já fechou? Sim respondeu o Senhor fecha à 1,30 da manhã. Meu Deus e agora?

Perguntávamos nós um para o outro. Quando de repente pensamos vamos alugar um Táxi que nos leve a Campo Maior e de manhã vimos buscar o nosso carro.

Procuramos a praça de táxis mas deparamos com ela vazia, já um pouco chateados com a situação inesperada, recorremos à Esquadra da Policia de Segurança Publica, pois na certeza ali encontraríamos alguma solução.

Numa secretária à esquerda da entrada da Esquadra um agente sentado, que ao ver-nos aproximar se levantou e se dirigiu a nós, dizendo, boa noite! Cumprimentamos o Sr. Agente, e começamos a contar nossa odisseia!

Ele dirigiu-se a um gabinete envidraçado à nossa direita onde pressupostamente se encontrava um seu Superior! Perguntando; temos o contacto do guarda do Parque?

O dito Superior que se encontrava entretido com seu computador e de onde quase não retirou os olhos abanando a cabeça negativamente dizia não, olhei o dito agente e perguntei, e agora? A resposta que obtive foi apenas um encolher de ombros!

Por favor, agradeço que me indique onde posso apanhar um táxi, que nos possa levar a casa, repetia eu com alguma ansiedade.

O Agente que nos tinha recebido prontamente de inicio nos respondeu humildemente, minha Senhora a partir da uma e meia da manhã não há carros de aluguer!

Não há carros de aluguer? Respondi eu.

Numa Cidade como esta, às duas e meia da manhã não há carros de aluguer nem Táxis? Não acredito! Dizia eu em voz alta.

Enquanto o Agente Superior continuava entretido com o computador sem nos ligar importância absolutamente nenhuma.

Eu, ainda disse, e agora? Nós até podemos ser assaltados na rua, como é?

Novo encolher de ombros foi a resposta do Sr. Superior, que de Superior nada tinha, pois sua capacidade e sua posição naquele momento nada valia, pois não conseguiu ajudar um casal de cidadãos na casa dos sessenta e setenta anos que pediam auxilio.

Saímos dali revoltados, quase a explodir, mas logo tentamos manter o equilíbrio, e aí se fez luz em nós, telefonamos para Campo Maior a um sobrinho nosso que nos fizesse o favor de nos ir buscar a Elvas.

Por ele conhecer pouco a cidade, combinamos o nosso encontro para as portas de Elvas.

Deitamos pés ao caminho, pelas ruas desertas da minha cidade!

Um pouco confusos, e com montes de sentimentos à mistura martelando nossas cabeças, dizíamos em voz alta, isto não nos está acontecendo.

Caminhávamos tristes, desiludidos, cansados, sempre naquela que seriamos assaltados a qualquer momento, de vez em quando passavam grupos de jovens, e nós com receio entravamos noutra rua.

Ainda um pouco longe do encontro marcado, passa um carro por nós que abranda a velocidade e de dentro uma voz nos diz! Resto de noite feliz! Olhei com receio, mas reconheci o condutor, era o amigo Roberto da Rádio, corri para ele e disse meu amigo estamos desorientados e com breves palavras contei o sucedido, o Roberto disse tenho agora que ir buscar minha namorada, não poderei ajudar muito, mas posso leva-los ao ponto de encontro com o vosso sobrinho, entramos no carro e lá fomos, mas sempre reclamando desta situação em que nos encontrávamos, ao que Roberto nos dizia, não tenham medo pois a Cidade de Elvas é uma cidade segura dentro de muralhas, mas naquele momento nada nos tranquilizava, trocamos numero de telefone para a eventualidade de não nos virem buscar o Roberto nos faria o favor de nos levar a Campo Maior, ficamos agradecidos por sua simpatia e em nos ter proporcionado uns momentos de alivio naquela noite terrível que nunca mais iremos esquecer.

Sempre de coração nas mãos e olhares desconfiados ali ficamos à entrada de Elvas. Sentamo-nos no muro que antecede as muralhas, e ali olhando o céu, com Badajoz à vista, como canta o nosso Paco Bandeira, esperávamos ansiosamente a chegada do nosso sobrinho que nos iria tirar daquele sufoco.

Não se fez tardar, e já a salvo regressamos a Campo Maior.

Agradeci a "Deus" ternos protegido de sermos assaltados, prato do dia nos tempos que atravessamos.

Depois desta aflição que passei com meu marido que tem 72 anos, pergunto.

 

 

Se não tivéssemos alguém disponível que nos fosse buscar, como teria sido?

Para que serve afinal a policia de Segurança Publica?

Será que uma cidade como a Cidade de Elvas, cidade fronteiriça com Espanha não devia estar melhor preparada para eventualidades deste género?

Será que aquele Agente Superior que estava de serviço na madrugada de 8-8-2010 dormiu bem nas noites seguintes, sabendo que no exercício das suas funções, não as cumpriu como era sua obrigação fazer, dando auxílio a um casal já na terceira idade, e em apuros?

Se acaso tivéssemos sido assaltados, será que o dito cujo Sr. Agente Superior, tomaria então aí conta da ocorrência?

 

E depois querem que as cidades do interior saiam da pasmaceira!

Como?

Bom! Por ora por aqui me fico.

Sou uma cidadã cumpridora de meus deveres.

Sou digna e cidadã responsável.

Como tal exijo os meus direitos.

 

Elvas! Com Badajoz à vista!

Elvas! Onde o Parque de estacionamento fecha antes das salas de espectáculo fecharem.

Elvas! Onde a partir da uma e meia da manhã não há táxis nem carros de aluguer.

Elvas! Onde a Esquadra da Policia de Segurança Publica não tem agentes à altura de ajudar dois cidadãos em apuros.

 

Esta é Elvas! A minha Cidade!

Esta é Elvas! A Cidade onde nasci!

 

Elvas! Por este andar, nem S. João Baptista nem o Sr. Jesus da Piedade te salva.

 

Sem mais assunto

Respeitosamente

 

Rosa Guerreiro Dias

" Poetisa Popular de Campo Maior"

17-8-2010

 

Elvas

Cidade velhinha, és cidade minha!

Pois quando outrora, um dia eu nasci!

Ali estavas tu de braços estendidos

esperando por mim...

E foram os teus braços

O meu primeiro berço

por isso cidade, de ti não me esqueço...

Pois logo ao nascer!

minha alma chorava, sorria, gritava

p'ra te agradecer!

E quando mais tarde, minha mãe me levava!

ouviu-se um soluço de alguém que chorava!

Eras tu cidade, cidade saudosa...

Pois mais uma vez

roubavam de ti um botão de rosa.

 

Mas tu! Para que a Rosa te não esquecesse

pedias a "Deus" que algo de bom na vida lhe desse.

E assim "Deus" decretou!

Que esta Rosa teria...

Um coração cheio de amor e poesia...

 

" Rosa "

 

publicado às 09:46


13 comentários

De Rosa Guerreiro Dias a 30.08.2010

Meu amigo!
Agradeço as tuas palavras de solidariedade, para comigo e meu marido a respeito deste infeliz episódio pelo qual passamos aqui no nosso querido e amado Alentejo.
O qual; e que como é do vosso conhecimento nós tanto divulgamos através do cante e da poesia.
Mas tudo isto faz parte da vida, e as terras em si, não têm culpa da má formação de certas pessoas.
Agradeço o teu comentário.
E deixo aqui aquele abraço dos amigos certos.
Rosa e António Dias

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