Duma casa cheia! De amor e alegria
Sobrou a lembrança, que teima em viver
Dum tempo passado, envolto em magia
Que é parte dum fado, que não quer morrer!
Sobraram cadeiras, esperando ninguém
E os lugares vazios, na mesa comprida
Toalhas bordadas, que aos poucos guardei
Em gavetas fechadas, com a chave da vida!
Sobraram talheres, um fogão sem calor
Sobraram as paredes, os quadros, os tectos
E os copos sem vinho, sem cor nem sabor
E pratos vazios, sem nada! Sem restos!
Sobrou-me esta vida, e tanto saber
Sobrou-me a saudade, dum tempo feliz
Sobrou-me o amor, que já ninguém quer ter
Sobrou-me a vaidade, daquilo que fiz!
Sobrou-me a vontade, com seu passo lento
Cabeleira branca que teima aparecer
Sobrou-me a idade, envolvida em pranto
Lágrima envergonhada, que não quer escorrer!
Sobraram conselhos, dos que ninguém quer
Sapatos e botas, que eu um dia usei
Vestígios já velhos, duma jovem mulher
E os segredos mudos, que nunca contei!
Tudo o que sobrou! Tudo é demais
Entre as coisas da vida, puros sentimentos
Somente a Poesia vai deixar sinais
Sintomas vitais de grandes momentos!
O tempo me falta! A vida? Onde está?
Queria mais um pouco, p’ra me consolar
Mas do que eu preciso, nem sobejos há
Com o que sobrou, me irei conformar!...
Rosa Guerreiro Dias
26-11-2012
"Autora da Foto: " ROSA DIAS "