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Rosademesinha é uma flor silvestre, mas muito delicada, e sensivel, nome que uma amiga minha me deu, achei interessante, titular meu blogs com este nome, que no fundo diz de mim o que na verdade sou. Campesina, Delicada, Sentimental, Sensivel.
Noite no
Alentejo
Ao Bingo foi um grupinho, só para tentar a sorte
Foi pobre, veio pobrezinho, quase que a perder o norte.
Levaram moedas trocadas, p’rás primeiras impressões
Nem uma alínea coitadas
Quanto mais Bingo ou milhões.
Da Espanha sopravam ventos
Sacudindo as portuguesas
Que resmungando em lamentos
Vinham murchas, quase tesas
Disse um rei em dado momento
Que da Espanha jamais se viu
Bom vento ou bom casamento
E hoje
Palavra de rei se cumpriu.
Prova dos nove fizemos
Neste Março marçagão
Um frio de rachar trouxemos
P’ra dar razão à razão
O amigo Avó recebeu, apesar de “poucachinho”
Dobrou aquele que deu, teve sorte o Avozinho.
E depois da fraca jogada, nessa Badajoz de alegrias
Termina a grande noitada, na casa da Rosa Dias
Zézinha
Chamou - me casa cheia, de alegria e de presença
Tudo por causa da veia, que trago desde criança
Não fora o frio que fazia, maior seria o serão
Ainda assim houve alegria, com amigos do coração.
Casal Avó foi presente
Luísa, Zézinha, pois então
A Rosa estava contente
O Dias e a Conceição.
J. Rosa Guerreiro Dias
23-3-2008
Dez mulheres
Dez filhas, nem todas mães, avós, talvez como eu sou
Dez mulheres, que são reféns, do mundo que as rejeitou
Dez mulheres que foram gente, dez vivências de canseira
Dez amores possivelmente, sentados numa cadeira
Dez sorrisos envergonhados, rios de beijos p/ra dar
Aos filhos e netos amados, que vão tardando em chegar
Dez sentidos vagueando, e tantas vidas por contar
Dez abraços estão guardando, p/ra quem as queira abraçar
A dobrar são os olhares, brilho de estrelas sumindo
Em dez vidas de mulheres, da vida se despedindo
Dez colos estão esperando, filho que tarda em chegar
Mas vão baixinho rezando, na esperança dele voltar
Dez mulheres, dez cadeiras, uma outra está vazia
Que vai esperando sem canseiras, a nossa chegada um dia
Meu futuro, vida triste, “Lar da terceira idade”
O número, ainda resiste, lá na rua da saudade
É uma versão verdadeira, que a poetisa nos fez
Sem ter esquecido a cadeira, que aguarda p’la nossa vez
É duro, mas é verdadeiro, só não vê quem for vaidoso
Com amor peço ao mundo inteiro, vamos olhar p’lo idoso.
Rosa Guerreiro Dias
10-3-2008
Mirtilis
Mértola
Caminhos desertos, aves madrugando
Saudosos afectos, p'ra quem vai olhando
O vento sacudindo as árvores em pé
A perdiz passando, vai testando a fé
O grito calado escondido entre serras
Já bastou de brado nas lutas e guerras
Agora descansas nos braços do rio
Vives de lembranças entre o casario
Há povos chegando, de onde virão?
Nasce o sol vão orando, mostrando quem são!
Panagens coloridas, cobrindo as ruelas
De calçadas esquecidas, velhas sentinelas
Gentes com sotaque, trajando de novo
Trazendo outra arte, cativando o povo
A cor vem dar brilho, à doce alentejana
Que segue em seu trilho, na calçada romana
Há homens letrados, em artes eu vi
Que escrevem tracejados os nomes daqui
Sorrisos esquivos de homens tementes
Do saber são arquivos, da arte sementes
As jovens passando, de cabeça coberta
Os corações vão pulando, é paixão na certa
De braços abertos Mértola contente
Tantos dialectos entre a sua gente
A ponte romana persiste em ficar
Porque ao rio Guadiana, prendeu seu olhar
Relíquias do tempo, segredos de amores
Sovada pelo vento, canteiro de flores
Lá do "Beira Rio" serrenha paizagem
Madruguei sem frio, sem medo à aragem
Esta camponesa que por ti passou
Rendeu-se à beleza
Que viu e deixou.
Rosa Guerreiro Dias
20-5-2007
Tu és mulher perfumada
De alecrim, Hortelã e poejo
Sementinha plantada
Em terra fértil de brejo
P'las mãos de Deus abençoada
Nesse bendito Alentejo
Caminhaste sempre em frente
Menina de alma sofrida
Mas com a força que um herói sente
Sacudiste o mal da vida
Tua luta foi renhida
Minha corajosa semente
Hoje és Mulher, Mãe de amor
Irmã querida abençoada
Tens ainda a força e a cor
Daquela terra lavrada
Onde a luz da alvorada
Deposita o seu calor
És mulher abençoada
Louvado seja o "Senhor" .
Da mana que muito te ama aí vão as palavras
que há muito te queria dizer, irmã amiga.
Rosa Dias
Queria ser mãe de mim agora
Deitar-me no meu regaço
Sentir o beijo que demora
No conchego de um abraço
Assim mataria o desejo
Da mãe que há muito partiu
E daquele saudoso beijo
Num sorriso que sumiu
Estou-me esforçando, mas não sei
Vamos lá ver se eu consigo
Repartir meu colo de mãe
Com os outros e comigo
Só assim esta saudade
Deixaria de ser constante
E minha mãe na verdade
Estaria sempre presente.
Rosa Guerreiro Dias
2-8-2007
de Campo Maior.
As ruas estão de pousio.
Minha Vila está de pousio
Mas p/ró ano renascerá
E meu povo cheio de brio
Sementes de arte espalhará
A festa, é trabalhosa
Diz bem, a voz da razão
Tanta flor, tanta rosa
Tanto craveiro em botão
Tudo é feito com amor
E com arte genuína
Um Campo Maior em flor
Onde a erva não germina
Ouvem-se vozes dizer
Esta festa é um esplendor
Deus não vai deixar morrer
Festas dum Campo Maior
Em dois mil e nove talvez
Volte a festa p/ra dar brado
E este povo camponês
Será de novo abençoado
Já repousa a pandeireta
Castanholas vão dormir
Mas meu povo fica alerta
P/rás festas que hão-de vir
Rosa Dias
26-3-2008
Um de entre tantos momentos dos mais lindos da minha vida.
Duas gerações, avó e netos momentos a recordar.
Um dia em férias da Páscoa
Começamos o dia no maravilhoso Castelo de S. Jorge na bela cidade de Lisboa e viemos terminar o dia com o lanche na conhecida Pastelaria Nacional, e não fora as pingas de chuvinha que caiam teria sido maior o dia, Rosa, Mariana e Diogo, felizes calcorreando as velhas calçadas da cidade.
Não chores meu amigo
Não vês que é mentira
Não vou eu já disse
Eu fico contigo
Que trapaça
A morte não pode ,não pode levar
Quem espalhou na terra tamanha alegria
Quem chorou
Quem riu dizendo poesia
Por isto e por tudo
Os poetas não morrem
Terão que ficar.
Que graça
Que graça eu acho da grande trapaça
Diz o poeta ao mundo, gozando em chalaça
A morte lhe diz, vem; chegou tua hora
O poeta
O poeta ri, gargalha, e troça dizendo
Diz lá outra vez, não estou entendendo
E empurra a negra morte da porta p'ra fora.
Ela sai
Sai à força
Mas leva-lhe a vida.
E p'ra mostrar seu poder
Apenas lhe deixa a carcaça estendida
O poeta se ergue, e enfrentando a morte
Grita glorioso
Ficaste-me o osso, que em pó se desfaz
Apesar disso não me dou por vencido
Ainda que eu vá p'ró além perdido
A obra que deixo, jamais matarás.
Homenagem a Mário Viegas
De -- 1-4-1996
Rosa Guerreiro Dias
Seu nome não sei dizer, mas seu coração conheci
atrás daquela janela
sempre esperava por mim
espreitava com ansiedade, até a criança aparecer!
P'ra lhe dar o dinheiro p'ró petrólio, p'ró candeeiro acender.
Já tinha nas suas mãos dezoito tostões apertados
Com receio que fossem vistos, por alguns dos seus criados.
Muitas vezes um pastel do seu almoço tirava
P'ra dar aquela criança, que todas as noites esperava.
Com as mãozinhas tremendo, da velhice, da doença.
Dava o dinheiro para o petrólio, aquela pobre criança.
Logo à entrada da rua a criança em correira, até chegar à janela
p'ra olhar quem lhe sorria.
Mesmo a janela fechada, era olhada com carinho, por essa pobre criança
regressada tarde ao ninho.
Esta bondade encoberta
Pouca gente a conhecia
Mas a Deus e à criança dava uma grande alegria.
Tantos dezoito tostõezinhos, essa amiguinha me deu.
E a criança hoje adulta
Passa à rua,
Pensa nela
Olha a porta
Olha a janela
e essa amiga não esqueceu.
J. Rosa Guerreiro 1983